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Saúde

Cientistas criam remédio contra obesidade que não afeta o cérebro

Por João Paulo Martins  em 18 de maio de 2021

Nova droga foi testada em cobaias e células humanas e se mostrou capaz de inibir o ganho de peso ao consumir energia armazenada na gordura marrom do corpo

Cientistas criam remédio contra obesidade que não afeta o cérebro
(Foto: Freepik)

Boa notícia para quem tem obesidade: cientistas desenvolvem remédio capaz de evitar o ganho de peso sem afetar o sistema nervoso. A pesquisa foi publicada no dia 11 de maio na revista científica Nature Communications.

Mudar o hábito alimentar e praticar exercícios pode ajudar as pessoas a atingir e manter um peso saudável. No entanto, tomar essas medidas de forma eficaz pode ser desafiador por muitos motivos e, por isso, algumas pessoas optam medicamentos para suprimir o apetite.

O problema é que várias drogas que ajudam a reduzir a compulsão alimentar e atuam nos neurotransmissores do cérebro foram retiradas do mercado devido a efeitos adversos, principalmente alteração do humor e da função cardíaca.

“A maioria dos tratamentos prescritos atualmente visa reduzir a ingestão de alimentos atuando no sistema nervoso central. No entanto, essas drogas podem ter efeitos colaterais psiquiátricos ou cardiovasculares significativos, que resultaram na retirada do mercado de mais de 80% desses medicamentos”, diz a pesquisadora Yan-Chuan Shi, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, uma das autoras do estudo, citada pelo site médico Medical News Today.

A pesquisa realizada por ela e por outros colegas visava justamente uma nova maneira de reduzir o ganho de peso sem afetar o sistema nervoso central.

Atuando na conservação de energia

Os pesquisadores se concentraram numa molécula chamada neuropeptídeo Y (NPY) que ajuda muitos animais, incluindo ratos e humanos, a sobreviver a condições de escassez de alimentos.

A NPY aumenta a ingestão de comida e reduz o gasto de energia, que fica conservada no tecido adiposo (gordura) marrom.

Quando as pessoas têm fácil acesso a alimentos e não fazem exercícios suficientes, o NPY pode dificultar a perda de peso.

“O neuropeptídeo Y é um regulador do metabolismo que desempenha papel crítico durante estados de baixo suprimento de energia, ajudando a armazenar gordura como um mecanismo de sobrevivência”, comenta o pesquisador Herbert Herzog, outro autor do estudo, também citado pelo Medical News Today.

Na pesquisa recém-publicada, os cientistas investigaram os efeitos de uma droga chamada BIBO3304 em ratos e células de gordura de pessoas com obesidade. A droga é capaz de bloquear um tipo de receptor celular do NPY chamado Y1, que é encontrado no tecido adiposo.

O melhor é que a BIBO3304 não deve afetar o humor como reação adversa.

Maior geração de calor

Durante sete semanas, os pesquisadores alimentaram ratos com uma dieta rica em gordura. Um grupo recebeu a BIBO3304 e outro não.

Eles descobriram que as cobaias que ingeriram a droga ganharam 40% menos peso. Além disso, houve aumento da geração de calor no tecido adiposo marrom e a redução da massa gorda total.

“O receptor Y1 atua como um ‘freio’ para a geração de calor no corpo. Em nosso estudo, descobrimos que o bloqueio desse receptor nos tecidos adiposos transformou a gordura ‘armazenadora’ em ‘queimadora’ de energia, ativando a produção de calor e reduzindo o ganho de peso”, revela Yan-Chuan Shi no site especializado.

Curiosamente, os cientistas descobriram que a gordura de ratos e humanos com obesidade tinha maior atividade para o receptor Y1 do que o tecido adiposo de indivíduos com peso saudável.

Isso pode explicar, em parte, porque perder peso pode ser tão difícil, visto que o NPY aumenta a ingestão de alimentos e reduz a produção de energia quando se liga ao Y1.

Quando os pesquisadores aplicaram a BIBO3304 às células de gordura de pessoas com obesidade, elas ativaram os mesmos genes envolvidos na geração de calor daqueles que foram ativados nos ratos.

Isso sugere que a droga, ou moléculas semelhantes, podem agir da mesma forma em humanos. Ainda assim, são necessários estudos clínicos para comprovar os efeitos do novo remédio e a ausência de reação indesejada.