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Saúde

Sperbactérias presentes em porcos podem migrar para os humanos, segundo estudo

Por João Paulo Martins  em 25 de abril de 2022

Cientistas acreditam que uso excessivo de antibióticos na criação de porcos poderia contribuir para o problema

Sperbactérias presentes em porcos podem migrar para os humanos, segundo estudo
(Foto: Pixabay)

 

Cientistas descobriram evidências de que tipos perigosos de superbactérias podem se espalhar de porcos para humanos. A descoberta reforça os temores de que o uso excessivo de antibióticos nas fazendas esteja levando à disseminação de micróbios resistentes.

O estudo analisou a superbactéria Clostridioides difficile, considerada uma das mais perigosas do mundo, e foi realizado por Semeh Bejaoui e Dorte Frees, da Universidade de Copenhague, e Soren Persson, do Instituto Statens Serum, ambas instituições da Dinamarca.

“A nossa descoberta indica que a C. difficile é um reservatório de genes de resistência a antibióticos que podem ser trocados entre animais e humanos. O achado alarmante sugere que a resistência aos remédios pode se espalhar mais do que se pensava anteriormente e confirma o elo na cadeia de resistência entre animais de fazenda e humanos”, afirma a pesquisadora Semeh Bejaoui, citada pelo jornal britânico The Guardian.

O estudo foi apresentado no último domingo (24/4) no Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas, em Lisboa, Portugal.

A bactéria C. difficile é conhecida por infectar o intestino humano e ser resistente praticamente todos os antibióticos atuais, só três ainda podem ser usados. Algumas cepas do micróbio contêm genes que lhes permitem produzir toxinas que podem desencadear inflamação intestinal e diarreia que ameaçam especialmente em idosos e pacientes hospitalizados.

Médicos e cientistas alertam há anos que a prescrição excessiva de antibióticos para problemas mais simples ou infecções causadas por vírus (para as quais não funciona) é que está gerando a disseminação da resistência a essa classe de medicamentos.

A pesquisa atual também confirma o risco do uso generalizado de antibióticos nas fazendas, em suínos, aves e gado. Isso ajuda no rápido aumento da resistência antimicrobiana em todo o mundo.

A estimativa da União Internacional para o Controle do Câncer (The Union for International Cancer Control) é que cerca de 750.000 pessoas morram todos os anos de infecções resistentes a medicamentos. Tudo indica que em 2050 esse número possa chegar a 10 milhões e custar mais de US$ 100 trilhões (R$ 483 trilhões) aos serviços de saúde em todo o mundo.

Esses temores levam à pressão sobre os médicos para reduzir a prescrição de antibióticos e, assim, retardar o aumento da resistência antimicrobiana. No entanto, como mostra o The Guardian, dois terços dos remédios antimicrobianos não são usados em humanos, mas na pecuária.

No estudo recém-divulgado, a equipe se concentrou em investigar a prevalência da Clostridioides difficile em animais de fazenda. Neste caso, porcos que tiveram os resultados comparados com pacientes hospitalizados na Dinamarca para ver se havia correspondência do micro-organismo. As amostras foram rastreadas quanto à presença da temida bactéria e o sequenciamento genético foi usado para identificar se elas abrigavam genes de resistência a toxinas e drogas.

“Descobrimos que as cepas isoladas em porcos eram geneticamente idênticas às encontradas em humanos. Ainda temos que mostrar que as cepas foram passadas de porcos para humanos, mas o que nosso estudo deixa claro é que fazendas que usam antibióticos estão criando condições que permitem que tipos resistentes floresçam e acabem infectando humanos”, comenta Semeh Bejaoui, citada pelo jornal britânico.