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Cientistas prolongam vida de cobaias em 23% e humanos poderão ser os próximos

Por João Paulo Martins  em 02 de junho de 2021

Estudo israelense mostra que aumentar os níveis da proteína SIRT6 no organismo é essencial para retardar o envelhecimento dos ratos

Cientistas prolongam vida de cobaias em 23% e humanos poderão ser os próximos
(Foto: Freepik)

“Who wants to live forever?” (Quem gostaria de viver para sempre?), pergunta a banda Queen na famosa canção lançada em 1986 como trilha sonora do filme Highlander: O Guerreiro Imortal. Imortalidade é impossível, mas prolongar a vida em até 23% poderá ser realidade um dia, segundo cientistas israelenses.

Em estudo publicado na última sexta (28/5) na revista científica Nature Communications, os pesquisadores revelam que foram capazes de aumentar a expectativa de vida das cobaias em cerca de 23% e esperam que isso possa eventualmente ser replicado em humanos.

Essa façanha foi possível graças a uma modificação genética que manteve alta a produção da proteína chamada SIRT6, que normalmente diminui com o envelhecimento. Foram testados 250 camundongos.

Além da maior expectativa de vida, os cientistas afirmam que as cobaias “ricas” na proteína eram mais jovens e menos suscetíveis ao câncer.

“Essa mudança na expectativa de vida é significativa quando você considera um salto equivalente na longevidade humana, o que nos faria viver em média até quase 120 anos”, comenta o pesquisador Haim Cohen, da Universidade Bar-Ilan, em Israel, um dos autores do estudo, citado pelo jornal The Times of Israel.

Proteína-chave no envelhecimento humano

Especialistas já sabem que a proteína SIRT6 possui um papel importante no envelhecimento das pessoas. Seus níveis diminuem com a idade e há muito interesse na possibilidade de estimular sua produção naturalmente.

Em 2012, Haim Cohen já havia se tornado o primeiro pesquisador a conseguir aumentar os níveis da proteína em animais, aumentando a expectativa de vida, fazendo com que ratos machos vivessem 15% a mais, segundo o jornal israelense. Mas esse experimento não teve o mesmo impacto nas fêmeas.

Agora, no estudo recém-publicado, o salto na expectativa de vida foi observado em ambos os gêneros de cobaias. Ainda assim, é maior entre os ratos machos, que passaram a viver 30% mais do que os do grupo de controle (não modificados para produzir SIRT6). As fêmeas viveram 15% mais do que as do grupo de controle.

Os cientistas explicam que um problema do envelhecimento nos ratos é a perda da capacidade de gerar energia após um curto jejum. Nesse caso, o organismo enfrenta dificuldade para gerar energia das gorduras e do ácido lático. Mas os ratos mais velhos com alto teor de SIRT6 puderam facilmente gerar energia a partir dessas fontes. Além disso, eles apresentaram menos colesterol, menor incidência de câncer e eram capazes de correr mais rápido.

“Nossa descoberta mostra que a SIRT6 controla a taxa de envelhecimento saudável, o que nos mostra que aumentar sua atividade pode retardar o envelhecimento”, diz Cohen, citado pelo The Times of Israel.

Apesar de os resultados serem animadores, o pesquisador alerta que a tecnologia atual não permite que os efeitos encontrados nas cobaias sejam traduzidos para os humanos, já que a proteína teria de ser suplementada. A expectativa é de que surjam medicamentos com a SIRT6 em até três anos.

“Estamos desenvolvendo pequenas moléculas que podem aumentar os níveis de SIRT6 ou tornar as quantidades existentes da proteína mais ativas. Elas podem ser usadas no futuro para lidar com o envelhecimento”, completa o cientista da Universidade Bar-Ilan.