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Ciência

Estudo revela que mulheres transgênero são mais fortes e têm mais capacidade pulmonar que as cisgênero

Por João Paulo Martins  em 05 de outubro de 2022

Os resultados sugerem que pode ser injusto incluir uma atleta transgênero para competir contra mulheres cisgênero

Estudo revela que mulheres transgênero são mais fortes e têm mais capacidade pulmonar que as cisgênero
(Foto: Pixabay)

 

Estudo publicado na última terça (4/10) no periódico científico British Journal of Sports Medicine revela que mulheres transgênero são cerca de 20% mais fortes e possuem capacidade pulmonar 20% maior durante o exercício do que o público feminino cisgênero com o mesmo nível esportivo.

Segundo o jornal britânico The Telegraph, os pesquisadores concluíram que mesmo a exposição prolongada ao estrogênio e a supressão da testosterona não foram suficientes para mudar os corpos masculinos para os femininos. “Essas descobertas adicionam novos insights às escassas sobre um tópico altamente controverso que é a participação de mulheres transgênero em atividades físicas. Isso pode ajudar nas regras e decisões sobre a participação de mulheres transgênero em práticas esportivas", afirma o pesquisador Leonardo Alvares, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, um dos autores do estudo, citado pelo jornal britânico.

Vale lembrar que várias entidades esportivas proibiram mulheres transgênero de participar de competições oficiais femininas, incluindo a Liga Internacional de Rugby, a Federação Internacional de Natação e a União Internacional de Ciclismo.

Na pesquisa recente, foram avaliadas a capacidade pulmonar e a força coração-pulmão de 15 mulheres transgênero, 13 homens e 14 mulheres cisgênero, informa o The Telegraph. Todos os voluntários tinham trinta e poucos anos e participavam de níveis semelhantes de atividade física.

As voluntárias transgênero tinham realizado terapia hormonal por uma média de 14 anos, tendo começado, em média, aos 17 anos.

Como lembra o jornal britânico, a exposição à testosterona induz mudanças na massa muscular, força, gordura corporal e capacidade de glóbulos vermelhos, e os pesquisadores estavam ansiosos para descobrir se esse efeito se mantinha mesmo após a supressão do hormônio masculino. Para isso, eles mediram a eficiência com que o corpo transporta e usa oxigênio, chamada VO2, que pode ser 50% maior nos homens do que nas mulheres. Acredita-se que o VO2 seja o melhor indicador da capacidade aeróbica.

O estudo recém-publicado mostra que nas voluntárias transgênero, embora o nível de VO2 tenha caído significativamente em comparação com o dos homens, ainda era maior do que nas mulheres cisgênero. Enquanto o pico de VO2 nas transgênero foi de cerca de 2.606, nas cisgênero chegou a 2.167. Já os homens marcaram 3.358.

Da mesma forma, quando a força de preensão foi medida (mede a condição muscular e a força geral), as mulheres transgênero atingiram cerca de 35 kg, enquanto nas cisgênero chegou a 29 kg, em média.

O pesquisador Alun Williams, da Universidade Metropolitana de Manchester, no Reino Unido, que não participou do estudo, falou sobre os resultados ao jornal britânico: “Essa nova evidência não apoia a elegibilidade de mulheres trans para as categorias femininas da maioria dos esportes”.

Ainda assim, ele alerta que a pesquisa não foi realizada em atletas. “Estudos de atletas bem treinados antes e durante o tratamento, usando testes mais precisos e mais relevantes para o esporte competitivo, são necessários para indicar as melhores políticas de elegibilidade esportiva”.