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Ciência

Derretimento das geleiras da Groenlândia pode elevar o nível do mar em, pelo menos, 27 cm

Por João Paulo Martins  em 30 de agosto de 2022

Cientistas afirmam que as geleiras da ilha da Dinamarca não conseguem mais repor o gelo perdido devido a um desequilíbrio

Derretimento das geleiras da Groenlândia pode elevar o nível do mar em, pelo menos, 27 cm
Cientistas afirmam que as geleiras da Groenlândia não conseguem mais repor o gelo derretido (Foto: Pexels)

 

A camada de gelo da Groenlândia, que vem derretendo de forma “rápida”, acabará elevando o nível dos oceanos em pelo menos 27 cm, mais que o dobro do previsto anteriormente, de acordo com estudo publicado na última segunda (29/8) na revista científica Nature Climate Change.

Os cientistas afirmam que o problema está ligado ao chamado “gelo zumbi”. Corresponde à camada espessa de gelo que ainda está presa no continente, mas é considerada condenada ao derretimento. Isso porque a camada não é mais reabastecida pelas geleiras e recebem menos neve, deixando o gelo propício aos efeitos das mudanças climáticas. Inevitavelmente ele derreterá e elevará o nível dos mares, comenta o glaciologista William Colgan, do Serviço Geológico da Dinamarca e da Groenlândia, um dos autores do estudo, citado pela ONG americana de mídia NPR.

“É gelo morto. Vai derreter e desaparecer da camada de gelo. Ele será enviado ao oceano, independentemente do cenário climático que tenhamos”, comenta o cientista.

O estudo gera ainda mais preocupação ao revelar que o fim do “gelo zumbi” da Groenlândia pode elevar os oceanos em até 78 cm. Ainda que o relatório de 2021 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU tenha projetado uma elevação dos mares entre seis e 13 cm em decorrência da perda de gelo na Groenlândia até 2100.

Como mostra a ONG, no estudo atual, os pesquisadores avaliaram o gelo em equilíbrio, ou seja, quando a queda de neve nas montanhas da Groenlândia desce e recarrega e engrossa as laterais das geleiras, equilibrando o derretimento nas bordas. Mas nas últimas décadas há menos reabastecimento e mais derretimento, criando desequilíbrio. Os autores analisaram a proporção do que está sendo adicionado ao que está vem sendo perdido e calcularam que 3,3% do volume total de gelo da ilha dinamarquesa derreterá, não importa o que aconteça com o mundo em relação ás mudanças climáticas.

O problema é tão grave que o estudo acredita que mais de 120 trilhões de toneladas de gelo já estão fadadas a derreter devido à incapacidade de reabastecimento na Groenlândia. Para se ter uma ideia, se a água desse derretimento fosse concentrada apenas nos Estados Unidos, o país teria o mar elevado em 11 m.

Esta é a primeira vez que cientistas calcularam a perda mínima de gelo – e o aumento do nível do mar – para a Groenlândia, uma das duas maiores camadas de gelo da Terra que estão diminuindo lentamente devido às mudanças climáticas, informa a NPR.

William Colgan diz à ONG que a equipe não sabe quanto tempo levará para todo o gelo condenado derreter, mas se for dar um palpite, acredita que, possivelmente, será até o final deste século, ou no mais tardar, até 2150.

O ano de 2012 (e em certa medida 2019) bateu recorde de derretimento, quando o desequilíbrio entre adicionar e subtrair gelo na Groenlândia se mostrou preocupante. Se a Terra começar a vivenciar mais anos como o de 2012, a perda de gelo na ilha dinamarquesa pode provocar aumento do nível do mar de 78 cm, alerta o glaciologista.