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Ciência

Cientista americano acusa chineses de apagarem dados do início do surto de covid-19 em Wuhan

Por João Paulo Martins  em 23 de junho de 2021

Em estudo ainda não revisado, Jesse Bloom diz que sequência de DNA do SARS-CoV-2 datada do início de 2020 foi retirada de um banco de dados de forma “proposital”

Cientista americano acusa chineses de apagarem dados do início do surto de covid-19 em Wuhan
(Foto: Freepik)

Em estudo publicado no repositório online bioRxiv na última terça (22/6), e que não foi revisado por outros cientistas, o pesquisador americano Jesse Bloom, do Fred Hutchinson Centro de Pesquisa de Câncer, em Seattle (EUA), revela que as primeiras sequências de DNA do novo coronavírus (SARS-CoV-2) foram deletadas de um importante banco de dados global a pedido de cientistas chineses.

As sequências do genoma, que foram recuperadas do armazenamento na nuvem e publicadas no estudo, foram descritas pelo pesquisador americano como “os dados mais importantes” sobre as origens da covid-19, informa o jornal britânico The Telegraph.

Os dados recuperados não apoiam a teoria de que o SARS-CoV-2 teve uma “origem natural” ou de que teria “vazado” de um laboratório do Instituto de Virologia de Wuhan, na China, diz Jesse Bloom, citado pelo periódico britânico.

No entanto, os dados sugerem que o novo coronavírus já estava circulando em Wuhan antes do que se imaginava, e que talvez pudesse ajudar a entender as origens da covid-19 e não apenas ajudar a acabar com a atual pandemia, mas prevenir a próxima.

Dados anteriores à pandemia

Como mostra o Telegraph, enquanto pesquisava o genoma do vírus, Bloom descobriu um projeto da Universidade de Wuhan que analisou 34 casos positivos do novo coronavírus em janeiro de 2020 e outros 16 no início de fevereiro.

O projeto procurou diagnosticar a infecção causada pelo SARS-CoV-2 por uma técnica chamada de sequenciamento genético chamada nanopore. Os resultados dessa análise chinesa foram pré-publicados em março de 2020 e depois em junho após ser revisada por cientistas, permanecendo disponível ao público até hoje.

No entanto, as sequências de DNA obtidas por Jesse Bloom, que foram salvas anteriormente no banco de dados Sequence Read Archive (SRA), mantido pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, não estavam mais disponíveis.

Esses dados genômicos, que funcionam como “manuais” da estrutura do vírus, são essenciais para os cientistas que estudam as constantes mudanças do DNA do coronavírus.

O pesquisador descobriu que as buscas no SRA (sob o código PRJNA612766) retornam com mensagem de erro, informando que o arquivo foi removido, revela o Telegraph.

Em resposta ao jornal britânico, um porta-voz dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA afirma que eles “revisaram a solicitação do investigador para retirar os dados” em junho de 2020 e os removeram.

“O solicitante indicou que as informações da sequência foram atualizadas, estavam sendo enviadas para outro banco de dados e queria que os dados fossem removidos do SRA para evitar problemas de controle de versão. Os investigadores responsáveis pelo envio detêm os direitos sobre os seus dados e podem solicitar a retirada deles”, explica o porta-voz ao periódico.

No estudo pré-publicado na terça (22/6), Jesse Bloom diz que não conseguia ver “nenhuma razão científica plausível para a exclusão [dos dados de DNA do coronavírus]”.

“Portanto, parece provável que as sequências foram excluídas para obscurecer sua existência. Isso sugere um esforço nada sincero para atrapalhar o rastreamento da propagação precoce da doença”, afirma o especialista, citado pelo Telegraph.