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Ciência

Chineses já fumavam maconha há 2.500 anos, segundo estudo

Por João Paulo Martins  em 19 de janeiro de 2022

Os povos antigos aproveitavam o efeito alucinógeno da Cannabis sativa durante rituais

Chineses já fumavam maconha há 2.500 anos, segundo estudo
(Foto: Freepik)

 

Enquanto o mundo ainda discute os usos medicinais da Cannabis sativa, arqueólogos descobriram que antigos chineses fumavam maconha na região montanhosa da Ásia Central há cerca de 2.500 anos.

O estudo com o achado foi publicado em 2019 na revista científica Science Advances.

Os cientistas lembram que a Cannabis, também conhecida como cânhamo, evoluiu há cerca de 28 milhões de anos no leste do planalto tibetano. Parente próximo do lúpulo comum encontrado na cerveja, a planta ainda cresce no ambiente selvagem em toda a Ásia Central. Há mais de 4.000 anos, agricultores chineses começaram a cultivá-la para obter óleo e fibra para fazer cordas, roupas e papel, explica o site científico Science.org.

Arqueólogos já suponham que havia queima ritual de maconha em locais da Ásia Central há 5.000 anos. Mas as descobertas de 2019 sugerem que as primeiras linhagens de Cannabis tinham baixos níveis de tetrahidrocanabinol (THC), o componente psicoativo mais poderoso da planta e, portanto, não possuíam propriedades alucinógenas.

Os vestígios da planta queimada há 2.500 anos foram encontrados no cemitério de Jirzankal, a 3.000 m de altura nas montanhas Pamir, no extremo oeste da China. Além da maconha, foram descobertos esqueletos, placas de madeira, tigelas e harpas chinesas, bem como braseiros que continham material chamuscado. Todos são típicos dos sogdianos, um povo do oeste da China e do Tadjiquistão que geralmente seguia a fé persa do zoroastrismo, informa o site especializado.

Em Jirzankal, contas de vidro típicas da Ásia Ocidental e seda da China confirmam o comércio de longa distância pelo qual os sogdianos se tornaram famosos, e a análise isotópica de 34 esqueletos mostrou que quase um terço eram migrantes. A análise de radiocarbono colocou os sepultamentos em cerca de 500 a.C., segundo o Science.org.

Os braseiros de madeira concentravam-se nas tumbas mais elitistas. Os pesquisadores analisaram o material e encontraram níveis excepcionalmente altos de THC em comparação com a Cannabis selvagem típica, embora muito menos do que nas plantas de hoje. A maconha aparentemente foi queimada em um espaço fechado, então os praticantes certamente inalaram fumaça com THC, dizem os autores, tornando esta a primeira evidência sólida do uso da Cannabis como alucinógeno.

De acordo com o site especializado, o uso da maconha era restrito às elites até que começou a se espalhar pela Ásia Central pela Rota da Seda, ligando a China ao Irã. Em 440 a.C., o historiador grego Heródoto escreveu que os citas nômades, que controlavam vastas áreas da Sibéria à Europa Oriental, tinham tendas e rochas aquecidas para inalar vapores de cânhamo que os faziam “gritar de alegria”.