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Ciência

Desvendado mistério das múmias de mais de 2.000 anos descobertas na China

Por João Paulo Martins  em 28 de outubro de 2021

Análise do DNA de 13 múmias achadas na bacia do rio Tarim sugere que elas não eram migrantes que levaram tecnologia para os chineses, e sim, caçadores-coletores da região da Sibéria

Desvendado mistério das múmias de mais de 2.000 anos descobertas na China
O DNA das múmias revelou que elas podem ter vindo da região da Sibéria há 9.000 anos (Foto: Wenying Li/Xinjiang Institute of Cultural Relics and Archaeology/Divulgação)

 

Descobertas há mais de 100 anos, as centenas de múmias muito bem preservadas da bacia do rio Tarim, na China, eram consideradas um “mistério” para os arqueólogos. Alguns pensaram que eram migrantes vindos do oeste e que levaram conhecimento agrícola para a região. Mas agora, análise de DNA sugere que se tratavam de indígenas provenientes da Sibéria.

A informação faz parte de um estudo publicado na última quarta (27/10) na revista científica Nature.

Como mostra um artigo do site da renomada revista, os pesquisadores rastrearam a ancestralidade desses primeiros fazendeiros chineses até chegarem em caçadores-coletores da Idade da Pedra (há 10.000 anos) que viveram na Ásia há cerca de 9.000 anos. Eles possuíam DNA único e aprenderam a criar gado e a cultivar grãos da mesma forma que outros grupos que viviam na região.

“O estudo revela as maneiras realmente diferenciadas com as quais as populações se movem ou se estabelecem, e como o conhecimento pode se espalhar também por meio delas”, comenta a arqueóloga Christina Warinner, da Universidade de Harvard (EUA), uma das autoras do estudo, citada pelo site da Nature.

 

Desvendado mistério das múmias de mais de 2.000 anos descobertas na China
As múmias foram encontradas em caixões no formato de barco e cobertos por couro de boi (Foto: Wenying Li/Xinjiang Institute of Cultural Relics and Archaeology/Divulgação)

 

Preservadas pela secura

 

As múmias foram encontradas no início do século XX em cemitérios pertencentes à cultura conhecida como Xiaohe, que estão espalhados pelo deserto de Taklamakan, na região de Xinjiang, na China, informa a revista científica.

A região é uma das mais inóspitas da Terra, por isso os corpos que foram enterrados em caixões no formato de barco, envoltos por couro de boi, estavam tão bem preservados. O ambiente quente, árido e salgado do deserto os mumificou naturalmente, mantendo desde cabelo até roupas.

No estudo recém-publicado, os cientistas compararam o DNA dessas pessoas com genomas de mais de 100 grupos humanos ancestrais e de mais de 200 populações modernas de todo o mundo.

Eles descobriram que as 13 múmias da bacia do rio Tarim parecem estar relacionadas a caçadores-coletores que viveram no sul da Sibéria (atual norte do Cazaquistão) há cerca de 9.000 anos, diz o geneticista Choongwon Jeong, da Universidade Nacional de Seul, na Coreia, um dos autores do estudo, citado pela Nature.

Evidências de laticínios foram encontradas ao lado dos corpos mais recentes, o que levou os pesquisadores a analisarem a arcada dental de algumas das múmias mais velhas para ver a conexão com a produção de leite.

Eles encontraram proteínas de bovinos, ovinos e caprinos, sugerindo que mesmo os primeiros colonos consumiam laticínios, revela a revista científica.