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Saúde

Covid longa: britânico bate recorde ao ficar 10 meses infectado pelo coronavírus

Por João Paulo Martins  em 24 de junho de 2021

O aposentado Dave Smith tinha acabado de tratar a leucemia quando foi vítima da covid-19 durante 290 dias, informa o jornal The Guardian

Covid longa: britânico bate recorde ao ficar 10 meses infectado pelo coronavírus
O aposentado britânico Dave Smith tinha acabado de superar um câncer quando adquiriu covid-19 que só foi curada 10 meses depois (Foto: BBC/Reprodução)

O instrutor de autoescola britânico Dave Smith, de 72 anos, já aposentado, foi infectado com o novo coronavírus (SARS-CoV-2) quando a pandemia atingiu o Reino Unido em 2020. Mas enquanto a maioria dos pacientes, incluindo os que sofrem de “covid longa”, eliminam o vírus de seus corpos em algumas semanas, ele apresenta uma infecção persistente que durou mais de 290 dias ou quase 10 meses.

Como mostra o jornal britânico The Guardian, esse é o período mais longo já registrado de infecção por covid-19 e o morador de Bristol realizou nada menos que 42 testes de PCR (polymerase chain reaction ou reação em cadeia da polimerase) que deram positivo e foi internado sete vezes.

“Sempre que eu ia [para o hospital] estava mal, muito mal mesmo, à beira da morte. Minha esposa começou a organizar meu funeral umas cinco vezes”, conta Dave Smith ao periódico.

De acordo com o The Guardian, o instrutor aposentado ficou curado após receber o mesmo coquetel de anticorpos da Regeneron usado para tratar o ex-presidente americano Donald Trump. Ele contém casirivimabe e imdevimabe que se ligam a diferentes locais da proteína spike (usada pelo coronavírus para infectar as células), o que reduz a eficácia do micro-organismo e, consequentemente, acaba com a doença.

O jornal conta que, apesar de ser um tratamento muito caro, Smith teve acesso ao Regeneron por meio de um programa do governo britânico que autoriza terapias não oficiais quando os tratamentos convencionais deixam de dar resultado. No entanto, o coquetel de anticorpos não está mais disponível e ainda não foi aprovado clinicamente para uso no Reino Unido.

Covid de duração muito longa

Segundo o médico Ed Moran, consultor do Serviço Nacional de Saúde (NHS) em North Bristol, no Reino Unido, citado pelo The Guardian, não há muitos casos de pacientes que adoecem cedo que parecem ter esse tipo de processo recorrente/remitente da covid-19.

“Sabemos que esses pacientes adquirem mutações semelhantes às observadas em algumas das novas variantes [do SARS-CoV-2]. É um risco teórico, mas definitivamente existe, e é por isso que não achamos que se deve ignorar esses pacientes quando se trata de acesso a novas terapias”, diz o consultor ao jornal britânico.

Assim como Dave Smith, a maioria das pessoas que apresentam covid longa possuem baixos níveis de anticorpos neutralizantes de vírus, seja por terem realizado tratamento de algum câncer, seja por doença hereditária que faz com que o sistema imunológico apresente defeito.

No caso do instrutor de autoescola, ele passou por sessões de quimioterapia em 2019 para tratar uma leucemia. Conforme o jornal, ele tinha acabado de vencer a batalha contra o tumor quando desenvolveu o coronavírus em março de 2020.

“Fiquei totalmente sem energia e perdi o olfato, que ainda insiste em não voltar. Mas não fiz teste de covid até abril, quando me levaram ao hospital porque desenvolvi uma infecção no peito”, conta Smith.

Ele foi mandado para casa depois de receber uma série de antibióticos, mas continuou a se sentir mal e precisou retornar ao hospital em julho porque estava muito fraco. Foi aí que testou positivo para covid novamente e a suposição inicial foi que ele havia sido reinfectado, mas o sequenciamento genético do vírus sugeriu que era a mesma infecção.

“A certa altura, fiquei acamado por dois ou três meses. Minha esposa teve que me lavar e fazer a barba na cama porque eu simplesmente não conseguia ficar de pé. Às vezes pensava que gostaria que me levassem no meio da noite, porque simplesmente não conseguia mais aguentar. Você chega ao ponto de ter mais medo de viver do que de morrer”, diz o aposentado britânico ao The Guardian.

Ele completa afirmando que nunca estará 100% porque a covid-19 destruiu seus pulmões, deixando-o sem fôlego muito rapidamente. “Mas cada dia que vivo agora é um bônus. Sempre digo que, quando você está deitado na sarjeta, tudo que se vê são estrelas. Estive lá embaixo e, agora, está tudo brilhante”.