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Cultura

Seca histórica na Europa está revelando as "pedras da fome" em vários rios, o que indicaria "tempos sombrios"

Por João Paulo Martins  em 14 de agosto de 2022

As pedras contêm marcações feitas por moradores no passado, em outros períodos de seca, e serviriam de alerta para os riscos da falta de água

Seca histórica na Europa está revelando as "pedras da fome" em vários rios, o que indicaria "tempos sombrios"
“Pedra da fome” encontrada no rio Elba, na Alemanha, traz a seguinte frase: “Se está me vir, chore” (Foto: Twitter/Citizen09372364/Reprodução)

 

Os níveis dos principais rios da Europa está bem abaixo do normal, em consequência da seca histórica que afeta o continente. Nos leitos que ficaram fora da água, mensagens de alerta registradas em pedras há séculos vieram à tona, deixando moradores assustados.

Como mostra o jornal americano Miami Herald, essas mensagens “assustadoras” compõem as chamadas “hungersteine” em alemão, ou “pedras da fome”.

Uma dessas pedras pode ser encontrada no rio Elba, que vai das montanhas da República Tcheca, passa pela Alemanha e deságua no Mar do Norte. Ela traz um registro de seca de 1616 associado ao seguinte aviso: “Wenn du mich seehst, dann weine”, ou “Se você me vir, chore”, em tradução livre.

As “pedras da fome” como essa eram usadas como “marcos hidrológicos” na região central da Europa, informa o jornal americano. Elas reapareceram pela última vez durante a seca de 2018.

Essas pedras são “esculpidas em anos de dificuldades e trazem as iniciais de autores perdidos na história”, segundo estudo tcheco publicado no periódico científico Climate of the Past, em 2013. “As inscrições básicas alertam para as consequências da seca. Elas expressam que a seca trouxe colheita ruim, falta de comida, preços altos e fome para os pobres”. São marcos para secas históricas, afirmam os pesquisadores.

A atual seca na Europa já é considerada histórica. Cientistas do Observatório Europeu da Seca dizem que pode ser a pior em 500 anos, afirma o Miami Herald.

Ainda conforme o observatório, 47% da Europa está em condições de alerta de seca, o que significa que o solo tem déficit de umidade. Outros 17% estão com a vegetação em risco por conta da falta de água.

Os principais rios da Alemanha, Itália e Inglaterra – Reno, e Tâmisa, respectivamente – estão secando, de acordo com o relatório do Observatório Europeu da Seca. Eles estão “muito secos, muito baixos e muito quentes”, o que tem consequências para a vida selvagem, economia e pessoas.

O rio Reno, por exemplo, está cerca da metade de sua profundidade normal para esta época do ano, com algumas seções ainda mais baixas, informa o jornal americano. Isso afeta o transporte de cargas e pessoas pelo rio, deixando os fretes cinco vezes mais caro porque os navios precisam carregar menos peso para garantir que não encalhem.

Espanha, Hungria, Romênia, Ucrânia e França também estão enfrentando a seca. O problema, segundo o observatório, é que as condições não devem melhorar tão cedo. “Estimamos um agravamento da situação na maior parte da Europa”, revela a entidade europeia, citada pelo Miami Herald.