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Ciência

Humanos já usavam tabaco há mais de 12.000 anos, diz estudo

Por João Paulo Martins  em 14 de outubro de 2021

Cientistas encontraram sementes de fumo numa lareira usada por povos nativos americanos onde hoje é o deserto de Utah, nos EUA

Humanos já usavam tabaco há mais de 12.000 anos, diz estudo
Segundo cientistas, nativos da América do Norte usavam tabaco há cerca de 12.300 anos (Foto: Flickr/Travis/Creative Commons)

 

Arqueólogos encontraram evidências de uso de tabaco por caçadores-coletores que viveram na América do Norte há cerca de 12.300 anos. Segundo o artigo publicado no site da renomada revista Nature, o achado é 9.000 anos mais antigo do que se pensava sobre o uso do fumo.

O hábito do tabagismo se espalhou pelo mundo após o contato entre exploradores europeus e povos indígenas da América do Norte no século XV, explica a revista. Mas os pesquisadores não sabem exatamente como e quando a planta do tabaco (Nicotiana tabacum) foi domesticada pela primeira vez.

Agora, o estudo publicado na revista científica Nature Human Behaviour na última segunda (11/10) revela a mais antiga evidência de uso do fumo num acampamento de caçadores-coletores onde hoje é uma região de deserto do estado de Utah, nos EUA.

O local fica ao lado do antigo rio chamado Old River Bed, onde as pessoas costumavam acampar entre 13.000 a 9.500 anos atrás. Ao escavar um sítio histórico localizado dentro do Campo de Teste e Treinamento da Força Aérea dos EUA, em Utah, a equipe encontrou uma antiga lareira contendo quatro sementes queimadas de Nicotiana, informa a publicação.

Os pesquisadores usaram a datação por radiocarbono para determinar a idade da lareira e seu conteúdo. As sementes de tabaco eram muito pequenas e frágeis para serem datadas, mas ao avaliar restos de madeira queimada que estava no mesmo local, foi possível afirmar que o material foi usado há cerca de 12.300 anos.

Embora a equipe não possa afirmar, com certeza, como o fumo foi usado, o fato de restarem apenas sementes implica que as folhas e caules da planta (partes com efeito tóxico) foram consumidas, afirma a Nature.

 

Ponta de lança entre os achados

 

Artefatos encontrados dentro e ao redor da lareira ajudaram a fornecer contexto para os cientistas. É o caso de um fragmento de ponta de lança comumente usada por caçadores-coletores na América do Norte durante o período Pleistoceno (entre 2.5 milhões e 11,7 mil anos atrás).

Curiosamente, como mostra a publicação, os pesquisadores acreditam que a arma pode ter sido usada para caçar várias espécies de patos, já que também foram identificados ossos de aves aquáticas foram no local da lareira.

É improvável que as sementes de tabaco tenham sido depositadas na lareira naturalmente, explica a Nature. Os cientistas acreditam que tenham vindo dentro do estômago dos patos caçados pelos nativos americanos ou de plantas que cresciam na região.

O problema é que o tabaco cresce em terras altas, longe dos pântanos e dos alimentos típicos de aves aquáticas. “Os pássaros teriam que ficar longe de seu habitat e comer algo que é basicamente tóxico e não saboroso. Além disso, encontramos apenas plantas úmidas comuns na região e não tabaco”, diz o pesquisador Daron Duke, do Grupo de Pesquisa Arqueológica Far Western, na Califórnia (EUA), um dos autores do estudo, citado pela publicação.