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Cientistas encontram “cometa” no cinturão que é “só” de asteroides

Por João Paulo Martins  em 08 de outubro de 2021

Chamado de 2005 QN137, o asteroide com características de cometa orbita entre Marte e Júpiter e possui corpo de 3,2 km e cauda de incríveis 720.000 km de extensão

Cientistas encontram “cometa” no cinturão que é “só” de asteroides
O asteroide 2005 QN137 possui cauda e solta poeira no espaço igual a um cometa tradicional (Foto: Henry H. Hsieh, Colin O. Chandler et ali./arXiv.org/Reprodução)

 

Um estudo pré-publicado (não revisado) no repositório científico online arXiv revela a descoberta de um tipo raro de objeto no Sistema Solar: um "cometa" escondido no cinturão de asteroides, entre Marte e Júpiter.

Descoberto em 7 de julho de 2021 pelo projeto Sistema Final de Alerta para Impacto Terrestre de Asteroides (ATLAS, na sigla em inglês), fundado pela Nasa e com sede nos observatórios de Haleakala e Mauna Loa, no Havaí (EUA), o “asteroide” (248370) 2005 QN137 é um dos oito corpos celestes dos mais de 500.000 asteroides do cinturão que foram confirmados como ativos e avistados mais de uma vez.

“Seu comportamento indica fortemente que sua atividade se deve à sublimação [do estado sólido para o vapor] de material gelado”, comenta o pesquisador Henry H. Hsieh, do Instituo de Ciência Planetária, no Arizona (EUA), principal autor do estudo, citado pelo site da instituição científica.

Devido a essa característica, explica o cientista, o asteroide é considerado um cometa do cinturão e um dos cerca de 20 objetos que foram confirmados ou são suspeitos de também serem cometas.

“248370 pode ser considerado um asteroide e um cometa, ou mais especificamente, um asteroide do cinturão do Sistema Solar que recentemente também foi reconhecido como cometa. Ele se encaixa nas definições físicas de um cometa, já que provavelmente é gelado e está ejetando poeira no espaço, embora também tenha a órbita de um asteroide”, explica Hsieh ao site do Instituto de Ciência Planetária.

 

Características de cometa

 

A pesquisa descobriu que o tamanho do núcleo, ou seja, a parte sólida (“cabeça”) do cometa, é cercado por uma nuvem de poeira, possui 3,2 km de diâmetro e o comprimento da cauda em julho de 2021 chegava a mais de 720.000 km  – um pouco menos que o dobro da distância entre a Terra e a Lua.

Apesar desse comprimento colossal, a cauda do 2005 QN137 nessa época tinha “apenas” 1.400 km de largura.

“Essa cauda muito estreita nos diz que as partículas de poeira mal flutuam para fora do núcleo em velocidades extremamente lentas. E o fluxo de gás que escapa do cometa, e que normalmente leva a poeira para o espaço, é extremamente fraco. Essas velocidades lentas normalmente tornariam difícil para a poeira escapar da gravidade do próprio núcleo. Isso sugere que algo mais pode estar ajudando a poeira a escapar”, explica Henry Hsieh ao site da instituição americana.

Ainda segundo o cientista, a “cabeça” do asteroide/cometa pode girar rápida o suficiente para lançar para o espaço a poeira que foi parcialmente erguida pelo gás que escapa do objeto.

“Mais observações serão necessárias para confirmar a velocidade de rotação do núcleo. Acreditamos que as características de um cometa normalmente sejam causadas pela sublimação de material gelado presente num objeto do Sistema Solar. Isso significa que a maioria dos cometas provém do frio exterior, além da órbita de Netuno, e passam a maior parte do tempo lá, com suas órbitas muito alongadas, aproximando-se do Sol e da Terra por curtos períodos de tempo”, completa o cientista do Instituto de Ciência Planetária.

Em contrapartida, os pesquisadores acreditam que asteroides do cinturão tenham estado no interior aquecido do Sistema Solar, onde os vemos hoje (na órbita de Júpiter) por pelo menos 4,6 bilhões de anos.

Portanto, qualquer gelo nesses objetos deveriam ter desaparecido há muito tempo por estar tão perto do Sol por tanto tempo, o que significa que não se espera encontrar cometas no cinturão.

Alguns raros objetos desafiam essa expectativa e foram descobertos pela primeira vez como uma nova classe de cometas por Henry Hsieh e David Jewitt, da Universidade da Califórnia (EUA), em 2006.

Esses objetos são de extremo interesse científico porque, de acordo com o artigo do site do Instituto de Ciência Planetária, podem ter contribuído para o surgimento de grande parte da água na Terra – por meio de impactos de asteroides do cinturão quando nosso planeta estava sendo formada.