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Ciência

Chimpanzés e bonobos podem reconhecer rostos conhecidos mesmo após anos de separação, diz estudo

Por João Paulo Martins  em 19 de dezembro de 2023

Cientistas descobriram que uma bonobo foi capaz de reconhecer a irmã e o sobrinho que não via há 26 anos

Chimpanzés e bonobos podem reconhecer rostos conhecidos mesmo após anos de separação, diz estudo
(Foto: Freepik)

 
Louise não via a irmã ou o sobrinho há 26 anos. No entanto, assim que viu imagens deles no computador, os reconheceu, olhando fixamente para os rostos deles. Essa cena poderia ser algo normal se Louise não fosse um bonobo ou chimpanzé-pigmeu (Pan paniscus). Ela passou a maior parte da sua vida em um santuário separado desses parentes.

Esse teste de reconhecimento faz parte de um estudo publicado na última segunda (18/12) na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences. Segundo matéria da revista Science, os nossos primos primatas mais próximos conseguem lembrar dos rostos de amigos e familiares durante anos, e por vezes até décadas. Na pesquisa, os cientistas mostram que a memória social de longo prazo não é algo exclusivo dos humanos, como se acreditou durante muito tempo.

Tentar descobrir se os primatas não humanos se lembram de um rosto não é simples. Os pesquisadores usaram rastreadores oculares e câmeras de infravermelho que mapeiam de forma não invasiva o olhar do animal enquanto olha para imagens ou objetos.

Foram testados 26 chimpanzés e bonobos que vivem em zoológicos e santuários da Europa e do Japão. A equipe mostrou aos primatas fotos dos rostos de dois macacos, que foram colocadas lado a lado na tela do PC, ao mesmo tempo, durante três segundos. Algumas imagens eram de indivíduos estranhos, outras de amigos próximos, inimigos ou de familiares que já viveram nos mesmos grupos sociais, mas que não viam há anos.

Os chimpanzés e bonobos ficavam de 11% a 14% mais tempo olhando para os rostos dos macacos que conheciam e associavam a bons momentos, em comparação com as imagens de estranhos. Em alguns casos, reconheceram o animal representado na tela, apesar de não o ver há tempos, como foi o caso de Louise.

O lampejo de reconhecimento foi rápido, mas consistente, e corresponde aos resultados de estudos semelhantes de bebês que olham por mais tempo para rostos de pessoas que conhecem, explica a Nature.

Os animais olharam durante mais tempo para imagens de macacos com quem tiveram relações positivas, como ex-companheiros de grupo. Eles não permaneceram tanto tempo nos rostos de ex-parceiros sexuais, conhecidos distantes ou indivíduos que os machucaram ou assustaram.

Outros animais, como golfinhos, elefantes e cães, usam som ou cheiro para reconhecer membros da família ou amigos. Mas a capacidade de usar pistas visuais para lembrar o rosto de um conhecido anos após a separação, até então, era algo exclusivo dos humanos, como lembra a revista científica.