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Bizarrice

Cientistas alertam para a importância da criação de bancos de fezes

Por João Paulo Martins  em 01 de julho de 2022

As pessoas armazenariam o próprio cocô, retirado delas quando ainda são jovens, para usá-los no futuro, em transplantes de microbiota fecal, caso seja necessário

Cientistas alertam para a importância da criação de bancos de fezes
(Foto: Adobe Stock)

 

Apesar de ainda soar como algo bizarro, o transplante fecal se mostrou promissor em estudos em cobaias, ajudando da covid-19 ao antienvelhecimento. Em humanos, a técnica que transfere a microbiota fecal de um indivíduo saudável para outra pessoa geralmente é usada em casos como a infecção pela bactéria Clostridioides difficile e na doença inflamatória intestinal, mas especialistas acreditam que o método pode ser usado para tratar várias doenças.

Como mostra o site americano Science Alert, a ideia é focar nos transplantes fecais autólogos, em que o doador e o receptor são a mesma pessoa, evitando problemas de incompatibilidade. Mas, para isso, é preciso coletar amostras de fezes quando as pessoas são jovens e saudáveis e armazená-las em uma instalação de criopreservação, caso os pacientes precisem futuramente.

A ideia de um banco de fezes foi relatada no estudo publicado na última quinta (30/6) no periódico científico Trends in Molecular Medicine.

“Conceitualmente, a ideia de banco de fezes para transplante autólogo é semelhante a quando os pais armazenam o sangue do cordão umbilical de seus bebês para possível uso futuro. No entanto, há maior potencial para bancos de fezes, e prevemos que a chance de usar amostras de fezes é muito maior do que para o sangue do cordão umbilical”, comenta o biólogo de sistemas Yang-Yu Liu, da Universidade de Harvard, nos EUA, um dos autores do estudo, citado pelo Science Alert.

Por incrível que pareça, o banco de cocô já existe. O primeiro foi criado pela ONG OpenBiome, organização criada em 2012 em Somerville, Massachusetts (EUA). Desde então, várias instalações semelhantes foram abertas no mundo, de acordo com o site americano, embora a maioria esteja armazenando amostras de fezes para transplantes em qualquer pessoa.

“Em princípio, o mesmo procedimento de triagem de receptores e coleta de amostras pode ser usado com o objetivo de rejuvenescer o microbioma pelo transplante autólogo. Em vez de começar do zero, os bancos de fezes de alto padrão existentes podem ser reaproveitados para a ideia de rejuvenescer as bactérias intestinais”, afirmam os cientistas no estudo recém-publicado.

O Science Alert lembra que há muitos problemas a serem enfrentados, incluindo a dificuldade para armazenamento adequado das fezes a longo prazo, usando criopreservação. Mas se esses desafios forem solucionados, e as pessoas puderem ser convencidas da ideia de armazenar o próprio cocô em um banco, será uma revolução para os autotratamentos.

“Os transplantes autólogos de microbioma fecal têm o potencial de tratar doenças autoimunes como asma, esclerose múltipla, doença inflamatória intestinal, diabetes, obesidade e até cardiopatias e envelhecimento”, diz o epidemiologista Scott T. Weiss, também da Universidade de Harvard (EUA), outro autor do estudo, citado pelo site americano.