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Única jaguatirica albina do mundo vive em parque da Colômbia, é cega e preocupa cientistas

Por João Paulo Martins  em 05 de janeiro de 2023

O felino de cerca de 28 kg foi descoberto ainda filhote em uma região de mata em Amalfi, no nordeste de Antioquia

Única jaguatirica albina do mundo vive em parque da Colômbia, é cega e preocupa cientistas
A rara jaguatirica albina, que vive no Parque de Conservação de Medellín, na Côlômbia (Foto: Parque de la Conservación de Medellín/Divulgação)

 

Só existe uma jaguatirica (Leopardus pardalis) albina no mundo. Ela é cega, mas mantém a agilidade e desenvoltura que se espera de um felino. O raro animal vive no Parque de Conservação de Medellín, na Colômbia, em um recinto sem estruturas altas que possam colocá-la em risco e com iluminação controlada.

Como mostra o jornal espanhol El País, essa jaguatirica seria uma presa fácil na floresta, por não ter como se camuflar quando sai para caçar pássaros ou pequenos répteis. Por isso, quando foi avistada há mais de um ano, foi trazida para o parque. Segundo o jornal, o albinismo dela seria indício da deterioração das florestas nativas de Antioquia, região colombiana em que foi descoberta.

Quando ela foi encontrada em novembro de 2021, em Cañón del Mata, uma área arborizada em Amalfi, a nordeste de Antioquia, os moradores acreditaram que se tratava de um gato e uma criança cuidou dela por alguns dias, até que a prefeitura notificou a Corporação Autônoma Regional de Antioquia Central (Corantioquia).

Quando cresceu, os especialistas suspeitaram que a felina fosse um jaguarundi (Herpailurus yagouaroundi). Finalmente, após uma série de estudos nos laboratórios da Universidade de Antioquia e da Polícia Nacional, foi identificada como sendo uma jaguatirica.

Atualmente ela pesa cerca de 28 kg, mas quando chegou ao parque de Conservação de Medellín, em 23 de dezembro de 2021, pesava menos de um quilo. Ela gosta de comer incessantemente, revela Jorge Londoño, porta-voz do parque, ao El País. Tanto é que seus tratadores tiveram que reduzir sua dieta de dois quilos para 1,5 kg de carne por dia.

 

Abandono e genética ruim

 
Os cientistas acreditam que a jaguatirica albina foi abandonada para proteger os irmãos saudáveis, que devem ter ficado expostos na toca quando a mãe foi caçar. A cor branca poderia tê-los tornado presas fáceis para uma coruja, um falcão ou uma águia.

A característica rara para a espécie, segundo os especialistas ouvidos pelo jornal espanhol, pode ser resultado dos altos níveis de consanguinidade na população de jaguatiricas que habitam a região de Antioquia, o que gera preocupação de que esses felinos possam desaparecer, apesar de não serem classificados globalmente como em risco severo de extinção.

De acordo com a bióloga Catalina Díaz Vasco, o albinismo é uma mutação recessiva que só é ativada quando ambos os pais carregam o gene, não sendo comum a reprodução de dois portadores, a menos que vivam em pequenas populações.

Um relatório do Observatório Florestal de Antioquia, citado pelo El País, revela que cerca de 490.000 hectares de floresta foram perdidos em Antioquia de 2000 a 2019. Pecuária, mineração e plantações de café seriam responsáveis por acabar com os corredores naturais que conectam as florestas. Isso afetaria a capacidade de as jaguatiricas buscarem parceiros geneticamente mais diversos. Díaz alerta que essa fragmentação é um problema sério, apesar de o município de Amalfi ainda possuir florestas de boa qualidade.

Por enquanto, a jaguatirica albina está segura e é motivo de orgulho para o Parque de Conservação de Medellín. “Ela é mimada porque é um símbolo de resgate e abrigo, recuperação e resiliência”, diz o porta-voz Jorge Londoño. E é verdade: a agilidade com que se move contrasta com o animalzinho doente que foi encontrado em Amalfi. Ela é muito bem cuidada, com médico 24 horas por dia e nutricionista. Além disso, ela não gasta energia caçando ou criando filhotes. É por isso que jaguatiricas em cativeiro podem viver até 21 anos, em comparação com as que vivem na natureza, que chegam a sete ou nove anos.