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Traidor da família de Anne Frank era um tabelião judeu, diz livro

Por João Paulo Martins  em 17 de janeiro de 2022

A obra The Betrayal of Anne Frank (A Traição de Anne Frank) aponta o tabelião holandês Van den Bergh como o responsável por entregar a família Frank aos nazistas

Traidor da família de Anne Frank era um tabelião judeu, diz livro
Anne Frank morreu aos 15 anos no campo de concentração nazista Bergen-Belsen, na Alemanha (Foto: Wikimedia/Creative Commons)

 

Um tabelião judeu foi considerado o principal suspeito da delação que entregou Anne Frank e sua família aos nazistas em 1944, na Holanda.

De acordo com o documentário e livro The Betrayal of Anne Frank (A Traição de Anne Frank, em tradução livre), de Rosemary Sullivan, que usou dados coletados pelo detetive e ex-agente da FBI, Vince Pankoke, o tabelião Arnold van den Bergh, que morreu em 1950, foi acusado com base em seis anos de pesquisa e uma nota anônima recebida pelo pai de Anne, Otto Frank, após seu retorno à capital holandesa Amsterdã, no final da Segunda Guerra Mundial.

A nota afirma que Van den Bergh, membro do conselho judaico, um órgão administrativo que os alemães forçaram os judeus a estabelecer, havia revelado o esconderijo da família Frank junto com outros endereços usados por judeus que estavam escondidos.

Ele teria sido motivado por ameaças à sua vida e de sua família, segundo o detetive americano. Segundo Vince Pankoke, o judeu foi forçado a trabalhar como tabelião na venda de obras de arte para nazistas proeminentes como Hermann Göring (ministro do interior e marechal de Hitler), usou os endereços dos esconderijos como espécie de seguro de vida para sua família. Nem ele nem a filha foram deportados para os temidos campos de concentração nazistas.

Para quem não sabe, Anne Frank se escondeu por dois anos no sótão de um armazém à beira do canal na área de Jordaan, em Amsterdã, antes de ser descoberta em 4 de agosto de 1944, junto com seu pai, a mãe Edith e a irmã Margot.

 

 

A jovem de 15 anos mantinha um diário e, por isso, depois da guerra, suas memórias foram lidas e sua história conhecida em todo o mundo. Após ser pega pelos nazistas, ela foi enviada para o campo de concentração de Westerbork, nos Países Baixos, sendo transferida em seguida para Auschwitz, na Polônia, antes de, finalmente, terminar em Bergen-Belsen, na Alemanha, onde morreu em fevereiro de 1945, possivelmente de tifo. Seu diário abrange o período de 1942 até 1º de agosto de 1944.

Como mostra o jornal britânico The Guardian, apesar de uma série de investigações, o mistério de quem levou os nazistas ao sótão permanece sem solução. Otto Frank, pai de Anne, que morreu em 1980, suspeitava fortemente da identidade dessa pessoa, mas nunca a divulgou em público.

Anos depois da guerra, ele contou ao jornalista Friso Endt que a família havia sido traída por alguém da comunidade judaica. A equipe do detetive Vince Pankoke descobriu que Miep Gies, uma das pessoas que ajudaram a levar a família para o sótão, também deixou escapar durante uma palestra nos Estados Unidos em 1994 que o traidor havia morrido em 1960.

“Vanden Bergh era um tabelião bem conhecido, um dos seis tabeliães judeus em Amsterdã na época […] A nota anônima não identificou Otto Frank, dizia: ‘seu endereço foi revelado’. Então, de fato, o que aconteceu foi que Van den Bergh conseguiu vários endereços de judeus escondidos. E eram endereços sem nomes associados e nenhuma garantia de que os judeus ainda estivessem escondidos neles. Isso é o que ele deu para salvar sua pele e sua família. Pessoalmente, acho que ele é uma figura trágica”, comenta a autora do livro The Betrayal of Anne Frank, Rosemary Sullivan, citada pelo jornal britânico.