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Cientistas conseguem fazer com que dois cristais do tempo, material fisicamente “impossível”, interagissem

Por João Paulo Martins  em 02 de junho de 2022

Em estudo recém-publicado, pesquisadores não apenas interligaram cristais do tempo, como mostraram que poderão ser usados em temperatura ambiente em computadores quânticos

Cientistas conseguem fazer com que dois cristais do tempo, material fisicamente “impossível”, interagissem
(Foto: Pixabay)

 

Cientistas acabam de dar um passo incrível em direção ao desenvolvimento de dispositivos quânticos, no que parece algo tirado da ficção científica. Pela primeira vez, partículas que se comportam de forma bizarra, conhecidas como cristais do tempo, foram interligadas, no que pode ser uma em evolução incrivelmente útil para a computação quântica.

Segundo o site americano Science Alert, após a primeira observação da interação entre dois cristais do tempo, detalhada em artigo publicado em 2020 na revista científica Nature Materials, desta vez os pesquisadores abrem caminho para o potencial aproveitamento desse material bizarro, como o processamento de informações quânticas.

O estudo atual foi publicado nesta quinta (2/6) no periódico científico Nature Communications. Ele trata dos cristais do tempo, que foram oficialmente descobertos e confirmados em 2016, e eram considerados fisicamente impossíveis. Eles são feitos do elemento itérbio e seus átomos estão dispostos em um padrão peculiar e bizarro.

Em cristais normais, os átomos estão dispostos em uma estrutura de grade tridimensional fixa, como um diamante ou quartzo. Essas treliças repetidas podem diferir na configuração, mas qualquer movimento que elas exibam vem exclusivamente de empurrões externos.

 

Cientistas conseguem fazer com que dois cristais do tempo, material fisicamente “impossível”, interagissem
Simulação de como os cristais do tempo mantêm uma oscilação perpétua (Foto: Science Alert/Reprodução)

 

Como mostra o Science Alert, nos cristais do tempo, os átomos exibem padrões de movimento no tempo que não podem ser facilmente explicados por um empurrão interno ou externo. Essas oscilações (referidas como “tique-taque”) são associadas a uma frequência regular e particular.

Teoricamente, os cristais de tempo mantêm um estado de energia muito baixo, conhecido como fundamental, sendo estáveis e coerentes por longos períodos de tempo. Ou seja, a estrutura se repete no espaço e no tempo, em movimento perpétuo do estado fundamental.

Na pesquisa recém-publicada, cientistas criaram o primeiro sistema de dois cristais do tempo em experimento que parece ir contra as leis da física. Eles mostraram que não apenas é possível criar esse material misterioso, como ele tem o potencial de ser transformado em dispositivo prático, de acordo com o site americano.

“Todo mundo sabe que máquinas de movimento perpétuo são impossíveis. No entanto, na física quântica, o movimento perpétuo é aceitável, desde que mantenhamos os ‘olhos fechados’. Ao nos esgueirarmos por essa ‘rachadura’, podemos fazer cristais do tempo. Só que juntar dois deles funciona lindamente, ainda que os cristais do tempo não devam existir. E sabemos que eles também existem à temperatura ambiente”, comenta o pesquisador Samuli Autti, da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, principal autor do estudo, citado pelo Science Alert.

Na prática, um sistema formado por cristais de tempo poderão ser usados para construir computadores quânticos que funcionem à temperatura ambiente.