Saúde
Remédios como Ozempic, Wegovy e Mounjaro podem ajudar a tratar a enxaqueca, segundo estudo italiano
Pesquisaores descobriram que um medicamento do tipo GLP-1 ajudou a reduzir pela metade os dias de enxaqueca dos voluntários

Um estudo apresentado no dia 21/6 desse ano, no Congresso da Academia Europeia de Neurologia, em Helsinque, Finlândia, revelou que medicamentos do tipo GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon-1, ou do inglês glucagon-like peptide-1), criados originalmente para o tratamento do diabetes tipo 2, como a semaglutida (Ozempic e Wegovy) e a tirzepatida (Mounjaro), podem ter um novo uso: ajudar no alívio de enxaquecas. Segundo o site americano de notícias científicas Science News, os resultados apontam que a liraglutida, remédio também do tipo GLP-1, ajudou a reduzir quase pela metade o número de dias do mês em que os voluntários sofriam de enxaqueca.
GLP-1 é um hormônio produzido pelo intestino que desempenha um papel importante no controle da glicose no sangue e no apetite. Ele estimula a liberação de insulina (hormônio que reduz o nível de glicose no sangue), reduzindo a produção de glucagon (hormônio que aumenta o nível de glicose no sangue) pelo fígado. Além disso, sinaliza ao cérebro de que o corpo está satisfeito, o que pode levar à perda de peso.
Como mostra o site americano, estudos anteriores já haviam demonstrado que os medicamentos agonistas (componente que se liga a um receptor e o ativa, desencadeando uma resposta biológica semelhante à da substância natural que normalmente se ligaria a esse receptor) do GLP-1 podem reduzir a pressão dentro do crânio. Essa compressão tem sido associada às enxaquecas.
No estudo apresentado no Congresso, o neurologista italiano Simone Braca, da Universidade de Nápoles Federico II, e seus colegas investigaram se a liraglutida poderia ajudar quem sofre de enxaqueca. Trinta e um adultos, 26 deles mulheres, receberam injeções diárias desse agonista de GLP-1 durante 12 semanas. Todos os voluntários eram adultos obesos e continuaram tomando seus medicamentos atuais para enxaqueca.
No início do experimento, de acordo com o Science News, os participantes apresentavam dores de cabeça durante cerca de 20 dias todos os meses. Após 12 semanas usando liraglutida, a média de dias com dor intensa de cabeça caiu para cerca de 11.
“Basicamente, observamos que os pacientes tiveram seus dias com dor de cabeça reduzidos pela metade, o que é impressionante”, disse Braca, citado pelo site americano.
O peso dos participantes permaneceu praticamente o mesmo durante o estudo, sugerindo que a redução da dor de cabeça não estava relacionada à perda de peso.
Se os resultados se confirmarem em estudos maiores, eles poderão ajudar pessoas que sofrem com enxaqueca que não é aliviada por medicamentos existentes. Os resultados também podem ajudar a entender mais profundamente o papel da pressão intracraniana e essa dor de cabeça intensa, segundo Simone Braca.
O estudo italiano foi publicado no dia 17/6 no periódico científico Headache. Trata-se de uma análise inicial dos efeitos da liraglutida nas enxaquecas e não incluiu outros grupos, como de controle. Ensaios clínicos maiores, que incluam grupos de comparação e, talvez, pessoas sem obesidade, ajudarão os cientistas a esclarecerem o efeito do medicamento sobre as dores de cabeça.
O Science News lembra que existe uma nova classe de medicamentos para enxaqueca, chamados bloqueadores de CGRP (peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, ou do inglês calcitonin gene related peptide), que tem sido extremamente eficaz para muitos pacientes.