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Ciência

Elemento químico é analisado pela 1ª vez em 69 anos

Por João Paulo Martins  em 04 de fevereiro de 2021

Por ter uma massa muito pesada, o metal radioativo einstênio é difícil de ser produzido em laboratório

Elemento químico é analisado pela 1ª vez em 69 anos
Após 69 anos, cientistas americanos conseguiram produzir uma quantidade suficiente de einstênio para analisarem suas características (Foto: Wikimedia/Haire, R. G./US Department of Energy/Divulgação)

Há 69 anos, cientistas tentaram, em vão, estudar os átomos de einstênio (elemento químico radioativo), pois ele possui deixa de existir (decai) em menos de um ano.

Esse comportamento segue os padrões de seus “colegas” do topo da tabela periódica, chamados de actinídeos. Mas, devido ao seu tamanho, estranhos efeitos físicos tornam difícil prever como o einstênio reage a certos processos químicos.

Porém, cientistas do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, do Departamento de Energia dos Estados Unidos, finalmente conseguiram avaliar o curioso metal radioativo.

Os achados fazem parte de um estudo publicado na última quarta (3/2) na renomada revista científica Nature.

Vale dizer que o Laboratório de Berkeley é famoso por ter descoberto parte significativa dos elementos que compõem a parte superior da tabela periódica.

Descobrindo metais radioativos

O físico nuclear Albert Ghiorso, famoso pesquisador do laboratório, começou a carreira desenvolvendo detectores de radiação no Projeto Manhattan (1939-1946), que deu origem às bombas atômicas americanas.

No início da década de 1950, Ghiorso detectou traços tênues de dois elementos radioativos ainda não identificados presentes na poeira coletada de aviões que sobrevoaram o primeiro teste em escala real da bomba atômica.

Um desses elementos foi mais tarde chamado de einstênio, em homenagem ao renomado físico alemão Albert Einstein.

Com uma massa atômica de 252 e contendo impressionantes 99 prótons, esse metal não é nada leve.

Difícil de criar

Não há nenhuma fonte disponível de einstênio na natureza e por ser mais pesado que o urânio, é complicado de ser produzido artificialmente.

Criar um lote requer o uso de “parentes” menores, como o cúrio, que precisa ser bombardeado com nêutrons num reator nuclear.

Os primeiros esforços para produção do einstênio datam da década de 1960, quando foi criado apenas o suficiente para se ver a olho nu (cerca de 10 nanogramas ou um milhão de vezes mais leve que um grama).

A vez de Berkeley

No estudo recém-publicado, os pesquisadores americanos conseguiram produzir cerca de 200 nanogramas do isótopo de einstênio E-254.

“É uma conquista notável podermos trabalhar com essa pequena quantidade de material. É significativo porque quanto mais entendemos sobre seu comportamento químico, mais podemos aplicar esse entendimento para o desenvolvimento de novos materiais ou novas tecnologias, não necessariamente apenas com o einstênio, mas com o resto dos actinídeos também”, diz a pesquisadora Rebecca Abergel, uma das autoras do estudo, citada pelo site Science Alert.

Existem outros elementos mais pesados, como mendelévio e laurêncio, mas como mostram os cientistas, ainda não temos tecnologia para criar uma quantidade suficiente deles para análise.