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Tuíte de embaixador da China gera discussão sobre religião

Por João Paulo Martins  em 21 de julho de 2021

Ao dizer que o “povo é Deus”, Yang Wanming causou discussão na internet, especialmente emr elação ao tratamento que o comunismo dá aos fiéis

Tuíte de embaixador da China gera discussão sobre religião
Como funcionário do governo comunista da China, é de se esperar que o embaixador Yang Wanming atribua o poder de Deus ao povo (Foto: Twitter/WanmingYang/Reprodução)

O embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, compartilhou em seu Twitter, no último domingo (18/7), um ideograma criado por Mao Tsetung, que diz “Viva o povo” junto à seguinte frase: “Quem é Deus? O Povo é Deus, é o povo que faz a história e determina a história”.

Isso foi o suficiente para gerar polêmica na internet, especialmente entre os sites e internautas brasileiros que são contrários ao governo chinês, ou mesmo que exercem o cristianismo.

“Vindo de um chinês, isso é no mínimo controverso. O povo chinês precisa se dar conta de que é deus, né?”, comenta o perfil intitulado @filhadopaiciro em resposta ao posto do Twitter.

“Espero que um dia você conheça a verdade e seja liberto das mentiras em que foi educado”, diz o usuário @mariopersona na mesma rede social.

“Perfeito! A escolha é feita pelo povo. Se existe um Deus ou não, isso é outra história. Se não for assim, teremos que acreditar/aceitar que um ditador, em qualquer parte da história e do mundo, foi escolha de um Deus... Absurdo!”, reclama o perfil @zewilliams também em resposta ao embaixador chinês.

Estado ateu

Como mostra um artigo publicado no site da ONG americana Conselho de Relações Exteriores, criada em 1921, é notório que o Partido Comunista Chinês não possui religião, sendo oficialmente ateu.

Apesar de o Artigo 36 da Constituição Chinesa pregar a liberdade de crença religiosa, nem toda exibição pública da religião ou mesmo a criação de templos religiosos é bem-vinda na China. É sabido que existe uma “perseguição velada” a certas crenças, segundo a ONG.

De acordo com o Conselho de Relações Exteriores, existem mais de 350 milhões de chineses que seguem alguma prática religiosa, principalmente budistas, protestantes, muçulmanos, praticantes do Falun Gong, católicos e budistas tibetanos.

“Muitos crentes não seguem a religião organizada e dizem que praticam a crença tradicional popular chinesa. Esses praticantes, junto com membros de igrejas domésticas clandestinas e grupos religiosos proibidos, são responsáveis por muitos dos fiéis não registrados do país”, afirma a ONG americana no artigo de seu site.

Uma tabela de 2020 compartilhada pela organização revela que 31,8% dos chineses se consideram agnósticos (não reconhecem uma verdade); 30,8% seguem a crença tradicional popular chinesa; e 16,6% se declaram budistas.

Como o Partido Comunista Chinês é oficialmente ateu, ele proíbe seus mais de 90 milhões de membros de manter crenças religiosas e exigiu a expulsão daqueles que pertenciam a organizações religiosas, de acordo com a ONG americana.

“Oficiais disseram que a filiação ao partido e as crenças religiosas são incompatíveis e desencorajam as famílias dos membros de participarem publicamente de cerimônias religiosas. Embora esses regulamentos nem sempre sejam cumpridos com rigor, o partido periodicamente toma medidas para traçar uma linha mais clara sobre a religião”, diz o artigo do Conselho de Relações Exteriores.

Portanto, não é estranho que o embaixador Yang Wanming, funcionário do governo comunista da China, tenha publicado em sua conta do Twitter uma expressão que provê ao povo o poder de Deus.